domingo, 1 de maio de 2011

Refutação à Aposta de Pascal


Prólogo


           Durante o período em que lecionei tive ótimas oportunidades de diálogos a respeito de Deus e dos dogmas religiosos. Agora há pouco, enquanto lia o livro Deus um delírio de Richard Dawkins (recomendo), me recordei de dois amigos que fiz naquela período - um biólogo e um padre(paradoxalmente, bom professor de filosofia) - com os quais tive ótimas conversas.
            Certa vez, em um debate (entre tantos que tivemos abordando temas relativos a Deus/Religião) com o padre pelos corredores da escola, o biólogo interviu com o seguinte argumento contra o ateísmo: “Se Deus não existe, tanto os crentes quanto os descrentes estão ferrados, se Ele existe, os descrentes estão ferrados e os crente talvez não. Portanto é melhor acreditar do que desacreditar.” Naquele momento a conversa entre nós três não pode fluir, pois, embora eu ache (e já achava naquele época) que aquele assunto seria mais interessante do que os assuntos que foram tratados nas aulas que demos em seguida, nós três tínhamos o “dever” de ensinar outras coisas aos alunos, tais como: não lembro.
           Tanto o biólogo e eu, como também eu e o padre, tivemos outras ótimas conversas, porém o referido argumento não voltou à pauta. Mas espero que aquele meu amigo tenha oportunidade de ler o contra argumento que apresentarei aqui, e gostaria, porém desesperançado, que ele ( ou você) o refutasse.

A Refutação

           O argumento trata-se de uma interpretação da Aposta de Pascal (caso desconheça pergunte ao “onisciente” Google e Ele lhe responderá. Explanarei somente o contra-argumento.) que, por si só, não é um argumento em favor da existência de Deus, e sim em favor da crença nessa existência. Nisso o argumento é válido, porém, é inútil (relaxa, vou explicar).
           É válido pela própria obviedade do entrecho. Ora, se existe um Deus punitivo e egoísta, que coloca como regra número 1 (mais do que sua vontade de ser reconhecido como existente) seu desejo de ser amado acima de tudo (tal qual o Deus judaico-cristão), então, realmente, nós ateus estamos ferrados. Seria ótimo se abandonássemos o quanto antes (de preferência agora mesmo) nossa condição ateísta.
           Porém - mesmo correndo o risco de ser taxado como prolixo, acho importante frisar - trata-se de um argumento em favor da crença, não da existência. Ele carrega nas suas entranhas o preconceito da livre escolha do indivíduo sobre o que ele acredita (pelo amor de deus, não confunda com liberdade religiosa).
           Você já viu uma pedra cair pra cima? Eu não. Se você me disser que vai soltar uma pedra e que ela irá subir, até que eu veja, não vou acreditar. Mesmo que você peça para eu tentar acreditar, e que , de fato, eu tente o exercício, ainda assim a energia e o tempo despendidos serão inúteis. Não escolhemos no que acreditar. Não temos o poder de acreditar por pura decisão. Podemos acreditar, e até desacreditar naquilo que nos parece óbvio, mas não podemos acreditar - apesar de podermos falar que acreditamos - naquilo que nos parece absurdo. Daí a inutilidade (prática) do argumento.
 


           E você ateu, que decidiu apostar e começou a rezar, está mais ferrado  do que eu. Por que, se o Onisciente existe, Ele está te sacando.


Um comentário:

Tarcisio Ribeiro disse...

Você discorreu sobre a inutilidade, penso que este argumento que você refutou tem outro problema. Se deus realmente não existe não é problema pra ninguém, pois o ateu já convive com a idéia de que não tem nada após a morte e vive bem com isso (alguns pela citada incapacidade de ter fé, se descabelam), teoricamente nem o crente terá problemas, quando ele morrer não terá consciência da inexistência de deus, por que esta não existirá pelo próprio fato. Considerando que deus aparentenmente só se manifesta post mortem.

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